Os Jovens e a Moda

Foto: Mariana Bruno

Os jovens representam o futuro. Nascidos entre 1995 e 2010, a geração Z é destaque na mídia por diversos fatores, e um deles é a moda. Dentro desse cenário, temos uma nova onda de profissionais que podem mudar alguns conceitos dessa cadeia: os jovens estilistas.

“Hoje a gente pode encabeçar o estilista como sendo a pessoa que pensa numa coleção, que idealiza um produto, que traz um conceito e uma identidade. Ele traz toda essa relação com o que vai ser projetado para as próximas coleções e para o mercado, de acordo com pesquisas de tendências e necessidades de consumidores”, diz Mateus Souza, professor de Vestuário e Moda no Senai. 

Em seu livro, Futuro da Moda: Tecnologia, Sustentabilidade e Personalização, a especialista em educação ambiental e consultora de estilo, Daniele Leite de Moraes, refere-se aos profissionais de moda como intérpretes do gosto dos consumidores e não como criadores de gosto.  

Ao mesmo tempo que esses profissionais apresentam um papel crucial na indústria, eles não formam toda uma marca de moda. “O estilista, e eu acredito que isso seja de extrema importância a gente ter conhecimento disso, é uma peça extremamente importante, mas não somente e unicamente a peça mais importante ali dentro de uma marca, ou quando a gente fala de um projeto de coleção e etcétera. (…) Existem outras pessoas também que são de extrema importância para essa marca e que trabalham continuamente ali com o estilista. Então, a gente pode pensar nos coolhunters, que são os pesquisadores de tendência, nas pessoas que trabalham diretamente com o projeto de coleção, que trabalham junto com estilistas, especificamente na parte de busca de aviamentos, matérias-primas, desenvolvimento desse produto. Análise de perfil de público-alvo, características, necessidades. Fora o modelista, piloteiro, costureiras e afins”, comenta Mateus.

Porém, os jovens estilistas que estão entrando no mercado e dando início à própria marca ou colaborando com pequenos empreendimentos não têm condição financeira para contratar todos esses profissionais. “Sou só eu que faço basicamente todas as etapas. Então eu tenho que pensar desde a pesquisa, criação, design, escolha de matéria-prima, modelagem, pilotagem e só a parte da costura e acabamento que é terceirizada. Depois volta para mim e a venda, criação de conteúdo é por minha parte. Toda a parte de fotógrafo, modelo, mood [mood board] de ensaio, depois venda, embalagem, pós-venda, subir coisas para  site. Ou seja, esse é o maior desafio”, comenta Giovana Crosara, 21 anos, estilista e dona da marca de roupas GIC.

Atualmente, na cidade de São Paulo, a média salarial de um estilista é de R$ 4.613,67, valor equivalente a uma jornada de trabalho de 44 horas semanais, de acordo com o site Salário. Mesmo com uma cadeia tão abrangente, visto que o setor conta com mais de 1 milhão de trabalhadores diretos e mais de 8 milhões que atuam de forma indireta, a carreira de moda ainda é tida como fora do “convencional”.  

“Quando me perguntavam o que eu queria ser quando eu crescesse, a resposta sempre era estilista. É engraçado que, quando a gente fala isso, é como dizer que quer ser astronauta, é um sonho distante. Na época do vestibular, ninguém falava isso, mas eu sentia uma pressão de seguir uma carreira mais convencional”, diz Giovana. Porém, a dona da marca de roupas, GIC, contava com o apoio e incentivo de seus pais para seguir na carreira de moda, algo que Felipe Freitas não experimentou. 

“Minha trajetória acadêmica e de trabalho é totalmente fora do mercado da moda. Meus pais diziam que a moda era apenas um hobby. Então, eu segui a carreira do pai e me formei em Engenharia Aeronáutica”, fala Felipe.

Morador de São Paulo desde 2011, o estilista maranhense Sandro Freitas, de 29 anos, conta os desafios que enfrentou ao tentar entrar na indústria da moda. “Como maranhense, afro-descendente e gay em São Paulo, eu vi que não era só se formar em moda para trabalhar em moda. Eu vi que existia preconceito, discriminação e inúmeras barreiras para conseguir uma oportunidade digna na cidade. Então, era como se eu não tivesse perfil de moda. As pessoas criam estereótipos da moda, das pessoas que trabalham na área, e esse perfil para uma pessoa nordestina, gay e que cresceu em um lugar simples é quase inalcançável e não faz parte da minha identidade”. Hoje, dono da marca afro-brasileira, afro-indígena e afro-futurista, a Berimbau Brasil,Sandro só conseguiu traçar seu caminho na moda depois de se conectar com sua ancestralidade e cultura.