“A moda é comportamental, as tendências surgem do comportamento do ser humano. Ela é minha personalidade palpável, é o que eu consigo tirar de dentro Pós-pandemia a gente viu muito isso, pois as tendências surgem no contexto que aquele povo vive”.
Foto: Giovana Crosara
Para Giovana Crosara, a moda era um sonho distante e nada convencional. Nascida na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, ela chegou a prestar o vestibular para o curso de Nutrição, mas a pandemia mudou isso. Em seu último ano do Ensino Médio, Giovana – e todos os alunos de escolas públicas e privadas do Brasil-, tiveram que enfrentar o ensino remoto, e foi durante este período que ela se reconectou com a sua vontade de seguir na carreira de moda.
“Na época do segundo e do terceiro colegial, eu sabia que eu gostava de Nutrição, mas eu também sabia que não era o que mais gostava e eu meu auto-julgava por isso. Mas quando eu vi que moda era o que eu realmente gostava não tive problema com isso”, comenta a jovem estilista.
Com tempo sobrando em casa, começou a pesquisar mais sobre o mercado e a história do setor e percebeu que não fazia sentido seguir outra profissão. Assim, quando passou na UFMG para o curso de Nutrição, já havia decidido que focaria em sua verdadeira vocação: ser uma estilista. Porém, o mesmo lockdown que aproximou Giovana da moda, também a distanciou da oportunidade de estudá-la em faculdades renomadas de São Paulo, como a FAAP. Ao voltar para sua rotina em EAD, decidiu focar em cursos de modelagem e costura para poder transformar sua criatividade em peças de roupa.
Essa influência artística foi passada de mãe para filha. Para Giovana a moda sempre foi uma forma de expressão, pois desde cedo personalizava suas roupas na intenção de mostrar para o mundo sua forma de ser. Ao entrar na Faculdade da Costura, um instituto presente em sua cidade, finalmente pôde ver seu sonho tomando forma, comprimento, movimento e estilo.
Ao mesmo tempo em que sua carreira como estilista começava, seus números de seguidores nas mídias sociais aumentavam. Criadora de conteúdo desde 2022, começou a contar com parcerias pagas, o que possibilitou um alcance maior de pessoas e uma entrada de lucro – que posteriormente bancariam o seu sonho. Nasce assim, Giovana Crosara: A influencer. O que começou com um compartilhamento de sua rotina de treinos, de produção e estudos, tornou-se uma porta para a abertura do Gic’s World, sua marca, atraindo seguidoras e, consequentemente, futuras clientes.
“Eu sempre quis que fosse uma coisa relacionada ao meu nome, então a marca é GIC porque eu me chamo Giovana Crosara. Desde o meio do ano passado eu comecei a me apresentar assim para as pessoas do Instagram, para que na hora que fosse soltar a marca elas pudessem associá-la a mim e vice-versa”, explica Giovana.
Foto: Giovana Crosara
Com peças clássicas, atemporais e versáteis, suas roupas seguem o conceito proposto pela garota desde cedo: algo único. Assim, a estilista começou seus processos de erros e acertos no meio de 2023, momento em que decidiu que abriria sua própria marca de moda. Seu nascimento como empreendedora não era algo que preocupava sua família, já que grande parte dela também administra seus próprios negócios em Uberlândia.
Para o início dos preparativos, a mais nova estilista começou a viajar para São Paulo a cada dois meses para entender o funcionamento da moda brasileira e seus preços. Assim, finalmente pôde conhecer presencialmente algo que tinha aprendido apenas em EAD. Muitos rolos de tecidos, agulhas, modelagens, cortes e ensaios fotográficos depois, nasce a GIC.
Na estreia da marca, dia 27 de abril de 2024, a grande maioria de suas peças se esgotaram. Cada compra era um sorriso da versão da finalmente estilista para a, até então, sonhadora, Giovana Crosara. Cada coleção representava uma passagem na sua carreira, marcando-a tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Ao mesmo tempo que podia soltar sua criatividade em sua marca, também aprendia e entendia os desafios que circundam a cadeia de moda brasileira.
Entretanto, com a marca há quatro meses no mercado, uma coleção praticamente esgotada e com mais duas a caminho, a jovem estilista e influencer não tinha o mesmo tom de voz sonhador. Os atrasos em confecções, a dificuldade em manter o ritmo, em lidar com a parte criativa, cuidar do marketing, da venda, e todo o resto que é necessário para uma empresa se manter, fazem parte do dia a dia da garota de 21 anos.
Como jovem e iniciante no mercado, à medida que se aprofundava no mundo da moda brasileira, mais fantasmas usando tecidos caros apareciam. Assim, seu processo de compra e venda, de estudo e prática, tornou-se seu maior desafio. “Para começo de marca você tem que colocar isso na ponta do lápis. Empreender no Brasil já é difícil, ainda mais para os pequenos empreendedores. Tudo custa muito caro e o engraçado da moda é que quanto menos você faz mais caro fica e quanto mais você faz mais barato fica. Então quanto mais aviamento você compra do mesmo, mais barato fica. Se você fizer 300 peças é mais barato do que você fizer 15 peças”, comenta Giovana.
No final das contas, não entrou na faculdade e não se vê mais viajando para São Paulo para entrar numa. Mas isso não quer dizer que seus estudos tenham acabado. Durante seu tempo livre, Giovana faz cursos de modelagem, marketing, empreendedorismo, economia, design, além de lidar com sua segunda profissão: influencer. Como criadora de conteúdo, ao passo que a profissão lhe proporcionou uma maior rede de alcance para a sua marca, ela também a colocou em uma posição de comunicadora na mesma velocidade.
“Hoje no instagram você não pode falar muita coisa senão você está ferindo o direito do outro. O que eu tento é não julgar, mas tentar orientar para conscientizar. Então eu não posso falar, “não comprem fast fashion”, porque o que eu escuto é: “mas eu não tenho condição de comprar o slow fashion” e como que eu vou questionar essa pessoa? Cada um tem a sua realidade, então eu tento mostrar os prós e contras de você consumir peças baratas, com péssima modelagem, que você vai usar no máximo umas 10 vezes e depois vai ficar horrorosa e que custa R$ 100 do que você comprar uma de R$300, que vai valorizar o seu corpo, vai melhorar sua autoestima e que vai durar por muito mais tempo”.
Apesar disso, o sonho nunca morreu. Os desafios, os atrasos, o aumento de preços da matéria-prima e seu desenvolvimento dentro da carreira formam sua marca. Hoje, sua conta pessoal conta com mais de 26 mil seguidores, enquanto sua loja acumula mais de 2 mil. Seu sonho pode custar caro, mas seu amor pela moda persiste. Essa é Giovana Crosara e o Gic’s World (O Mundo da Gi). “Custe o que custar, meu plano B é a Gic. Nunca tive outro”, finaliza a estilista.